É preciso saber usar a dor a nosso favor
- oatonarrativo

- 14 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 19 de ago.

Porque a dor está diretamente ligada ao crescimento. Seja o nosso, ou dos nossos personagens.
Eu tenho certeza que você já passou por aquela sensação de aperto, de sufoco, de incômodo que parece não caber dentro do peito. Tem dias em que tudo que você queria era conseguir se explicar. Se aliviar. Mas as palavras não saem do jeito certo.
Talvez fosse porque você estivesse tentando desabafar. Mas talvez não tivesse alguém que você confiasse o bastante para se expor de forma tão vulnerável. E aí, o que fazer nesse caso?
Eu não sei você, mas minha jornada como escritor e roteirista nasceu de uma situação como essa. Uma dor, uma angústia, uma coisa que eu não sentia que eu podia confiar em ninguém para falar a respeito. Eu tinha medo do julgamento e da rejeição. Mas ao mesmo tempo, não tinha como sobreviver engolindo tudo calado. E então, eu escrevi.
Muita gente vê a escrita como catarse. E de fato, ela pode ser. Mas quando você canaliza o que sente através de um personagem, de um conflito ou de uma situação, simbólica ou não, você cria arte. Você dá forma ao invisível. A angústia, quando usada com cuidado, se torna uma matéria-prima muito valiosa para a escrita de ficção. Porque ela carrega verdade e contradição.
Quer ver como isso funciona?
Pense na última vez que você se sentiu incompreendido. Ou rejeitado. Ou decepcionado. Agora imagine um personagem vivendo essa mesma emoção, mas em outro contexto.
Talvez ele esteja sendo ignorado por alguém que ama. Talvez ele esteja prestes a tomar uma decisão difícil. Ou talvez ele precise fingir que está bem, quando na verdade está à beira do colapso.
Percebe como essas são situações extremamente fáceis de se identificar? Isso acontece porque é assim que, muitas vezes, a vida funciona. E é como eu gosto de dizer:
A ficção é apenas um recorte da realidade.
Por isso que essa angústia que um dia você sentiu pode se tornar o coração de uma cena memorável. Porque você sabe exatamente como ela pulsa. Como ela aperta o peito, como ela trava a fala e como ela faz o mundo parecer errado.
E ao colocar isso em palavras, ainda que em outro corpo ou outro enredo, você cria uma conexão com quem lê. Porque alguém, em algum lugar, também já sentiu isso. E vai encontrar na sua história uma forma de nomear aquilo que ela nunca conseguiu explicar.
Mas atenção: Transformar angústia em cena não é despejar tudo de qualquer jeito. É trabalhar a emoção com estrutura; é usar o conflito como canal; é entender que a sua dor pessoal pode gerar uma identificação universal, se for escrita com intenção.
Então, da próxima vez que a angústia apertar, experimente isso: Crie uma situação fictícia com essa mesma emoção no centro. Deixe um personagem viver o que você viveu, e observe o que acontece.
Talvez você descubra que o que parecia impossível de suportar, também pode ser uma lição impossível de esquecer.



