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Uma verdade sobre seu protagonista

Atualizado: 9 de jun.

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Ele sempre carrega uma parte importante de você.


Mesmo que você tente evitar, vai acontecer. Mesmo que você invente um nome, uma aparência, um estilo de vida completamente diferente do seu... vai acontecer.


E antes que você pense que isso é algo ruim, é justamente o contrário. Isso não é um problema. Na verdade, é justamente o que torna a sua escrita viva.


Porque muita gente acha que para ser um bom escritor é preciso “desaparecer” por trás da história ou criar mundos completamente distantes da própria realidade, como se a verdade estivesse apenas naquilo que é diferente de nós. Mas a verdade mesmo é que quanto mais você tenta se afastar de si, mais você se repete sem perceber.


E sabe por quê? Porque a matéria-prima da sua criação sempre é você mesmo.


É da sua vivência que nascem as reações emocionais que seus personagens terão. É da sua visão de mundo que vêm os dilemas, os julgamentos e os conflitos morais. É da sua história, com seus vazios, suas dores, seus afetos e suas faltas, que surgem os caminhos mais profundos da ficção que você escreve.


Mesmo quando você cria alguém que não se parece nada com você, talvez esse alguém represente algo que você não teve coragem de ser. Ou ainda, algo que você tem medo de se tornar.


Eu já criei personagens que mentem, que manipulam, que se sabotam, que se escondem. E depois de um tempo, percebi que eu também já fui tudo isso. Em outras proporções, em outros contextos, mas já fui.


Quando a gente entende isso, a nossa escrita se transforma. Ela se torna mais verdadeira, mais humana. E o leitor sente isso. Ele sente porque se reconhece. Porque, no fundo, o que nos conecta à ficção não é o que ela tem de extraordinário, mas o que ela tem de profundamente humano.


Por isso, o seu trabalho como escritor ou escritora não é esconder quem você é. Muito pelo contrário! É ter coragem de espremer essa vivência até extrair dela o que há de mais sincero.


Mesmo que doa. Que pareça estranho. Que você pense: “mas ninguém vai entender isso”.


Vai entender sim. Porque sempre tem alguém que passou por algo parecido. Sempre tem alguém que precisa ouvir exatamente essa verdade. E essa verdade mora nos seus personagens. Até nos mais absurdos, nos mais fantasiosos ou nos mais sombrios. Todos eles falam um pouco de você.


E talvez, por isso mesmo, escrever seja uma das formas mais bonitas de se reconhecer.

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