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O "sucesso" no mercado audiovisual

Atualizado: 19 de ago.

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Esse é com certeza o conceito mais relativo quando eu penso nos objetivos que eu quero alcançar com a minha carreira enquanto roteirista.


Isso porque, desde quando eu comecei, era muito comum ouvir coisas que relacionavam o sucesso na carreira com ter uma obra vendida para a Netflix. Tudo bem, não sejamos hipócritas. O quão incrível seria ter uma obra assinada por você em uma gigante do streaming? Mas chegou um momento que eu comecei a me questionar: "cara, então essa é a régua do sucesso?"


Foi aí que começaram as minhas primeiras crises. Consegui minha primeira oportunidade como roteirista em um grupo de pesquisa de atores que era dirigido por um diretor com mais de 20 anos de experiência na maior emissora do país. Escrevi meus primeiros textos. Vi eles sendo produzidos. Melhorei minha escrita. Fui sendo elogiado. Recebi ótimos feedbacks construtivos. Evoluí. Mas na minha cabeça, eu ainda não era um roteirista, afinal, eu não tinha feito nada para a Netflix.


Demorou até eu entender que para ser um roteirista, tudo o que eu tinha que fazer era... escrever um roteiro. E aí uma chavinha virou na minha cabeça. Não deixei mais com que a régua do sucesso fosse o que sempre disseram pra mim. E por onde eu passava, eu tentava falar isso para as pessoas.


Eu tentava alertar as outras pessoas porque eu comecei a ver outro movimento muito preocupante: de roteiristas frustrados porque não conseguiam oportunidades. Só que tais oportunidades que eles buscavam era o sucesso comercial. E apenas ele. E aí todas aquelas dúvidas que eu tinha no começo voltavam com força. E com isso, novas crises surgiram.


Cara, eu queria escrever sobre o que estava dentro de mim. Sobre o que me incomodava. Sobre o que queria trazer um debate, uma reflexão. Queria colocar meu ponto de vista. Queria colocar toda a minha sensibilidade na minha arte, na minha obra. Afinal, não é disso que o nosso ofício depende?


Só que, embora nosso ofício dependa disso, o mercado em que a gente tenta se inserir, não. O mercado não está tão interessado assim em quem só sente. Ele quer quem entrega. E quem entrega rápido, com eficiência, e projetos “vendáveis”. Essa é a percepção que eu tenho hoje.


Então, eu novamente começo a me questionar: Será que eu preciso me endurecer pra ser levado a sério? Será que tem espaço pra alguém como eu nesse lugar?


A grande verdade é que ter, tem. Mas, de novo, talvez não tanto da forma como nos ensinaram.


Dá pra ter propósito, sensibilidade. Contanto que ela seja lucrativa. Isso se formos jogar conforme as regras que regem o jogo hoje em dia. Isso se sua perspectiva de sucesso continuar sendo vender um projeto para uma Netflix da vida.


Nessa minha trajetória, eu estou dando a sorte de encontrar pessoas que estão buscando outros caminhos, e de uma forma ou de outra, estão conquistando seu lurgazinho. E me inspirando nessas pessoas, eu mesmo estou criando o meu próprio caminho até alcançar o meu propósito.


Talvez eu não alcance o grande sucesso comercial. Mas pra mim, está tudo bem. Eu reconheço que sou uma pessoa mais sensível e que dá importância para temas ou assuntos que talvez não sejam o que o público geral queira assistir, ou que o mercado esteja interessado em produzir.


Hoje eu entendo que ter uma sensibilidade mais aguçada não é um defeito. É o meu superpoder. É o que me faz perceber nuances, captar silêncios e traduzir emoções que muita gente nem sabe nomear.


Ao mesmo tempo, entendo que esse mundo pode parecer um campo de batalha impossível de vencer, cheio de prazos, egos, cobranças e comparações. Além de pessoas que pensam que arte é só entretenimento, e esquecem que ela também é cura. E eu, no meio disso tudo, apenas tento manter o que tenho de mais valioso: minha essência.


Trilhar por esse caminho é difícil, mas acima de tudo, hoje eu sei que eu devo continuar criando com verdade. Mesmo que me digam que não vai vender. Mesmo que me digam que precisa ser “mais comercial”. Mesmo que me digam que eu sou sensível demais. Porque é justamente essa minha sensibilidade que vai fazer alguém do outro lado sentir: “Essa história me entende. Essa história é pra mim.”


E se eu conseguir tocar uma pessoa com o que eu escrevo, já valeu a pena. Aos poucos, eu vou construindo o meu espaço. Não do jeito que o mercado quer, mas do jeito que eu preciso que ele exista.

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