Será que isso é mesmo para você?
- oatonarrativo

- 25 de jan.
- 3 min de leitura
Atualizado: 31 de mai.

Se você já começou com dúvida, então é muito provável que não, isso não é para você.
Tá, talvez eu esteja sendo um pouco radical, porque eu sei que não é tão simples assim. Mas eu vou te contar como foi a minha história com o mundo das artes, e talvez você entenda melhor o que eu quero dizer.
Antes de me tornar roteirista, eu me formei como ator. E eu nunca me esqueço daquela aula que a professora nos perguntou: “Por que você está aqui? Por que você quer ser ator?” Na hora, eu não soube responder. Na verdade, eu só fui conseguir responder anos depois. E não era nem porque eu “não sabia”, mas porque eu ainda não tinha coragem de admitir o motivo.
Eu era uma pessoa solitária, medrosa, insegura e que não via outra maneira de poder se expressar que não fosse sendo “de mentira”. Eu acreditava que eu só poderia viver a vida que eu queria, se fosse na ficção. Era por isso que eu queria ser ator.
Foi uma ótima experiência e que me trouxe muitas respostas, além de ter me aberto portas para outros lugares - como o roteiro, que no fim, foi onde eu me encontrei.
Daí, juntando tudo o que eu levei da minha experiência com a atuação, eu descobri o poder que a arte tem de contar histórias, de dar voz a quem não tem e de poder espalhar uma mensagem ao mundo.
É isso. Eu descobri o que eu quero fazer na minha vida.
Mas infelizmente, não é tão simples assim.
Com o tempo, eu fui descobrindo que toda aquela beleza que eu via que a arte poderia proporcionar, não era para todos. Porque a arte se tornou um produto. E como todo bom produto, ela precisa vender. Se a sua arte não tiver relação com o assunto do momento, ou se ela não tiver a cara que todos querem ver, então ela não serve. Guarde ela para você. Ou melhor, nem perca seu tempo.
Quando eu fui percebendo que a maioria dos lugares para onde eu olhava era assim, eu comecei a ter uma certeza: isso não é para mim. Eu comecei a pensar se toda aquela minha aspiração fazia algum sentido. Será que eu estou sendo sonhador demais?
Talvez eu esteja. Mas se é nisso que eu acredito, então eu preciso continuar. Porque a pior coisa que uma pessoa pode fazer consigo mesma, é não ser fiel a quem ela é.
Nós já passamos praticamente a vida inteira fazendo um papel que não nos cabe, sempre para agradar alguém ou para se encaixar em um lugar que claramente nós não pertencemos. E a troco de quê? O quanto isso nos faz verdadeiramente felizes? Nós decidimos nos amarrar em correntes que só trazem uma infelicidade mascarada de um falso pertencimento, mas no fundo, a gente sabe que a sensação de solidão ainda está ali bem presente.
Quando essa ficha caiu para mim, eu consegui quebrar aquela crença. Aquela crença mentirosa. Não. Isso é para mim. Eu, enquanto artista, estou aqui para mostrar para o mundo que as coisas não são apenas “sim ou não”, “preto ou branco”, “zero ou um”.
Eu, enquanto artista, sou um agente transformador do mundo, através da minha visão, da minha vivência, que com certeza é muito semelhante com a de muita gente por aí. E é justamente por isso que eu entendo a importância desse meu trabalho.
Portanto, podem falar o que for, que a minha arte não serve, que ela é fraca, que ela é feia… Isso não me abala mais. Porque da mesma forma que eu fui resgatado pela arte de alguém um dia, eu sei que a minha arte ainda tem muita gente para resgatar por aí.
E por isso mesmo você nunca deve ter dúvidas se o que você está fazendo, realmente é para você. Pois se você já se encontrou nesse lugar, então sim, você já está no lugar certo.



